sábado, 7 de novembro de 2009

Ela é só uma cidadã. Então todos se calam - sobre matérias do Reinaldo Azevedo

A UNIVERSIDADE E O BOTECO Clicando aqui, você assiste à reportagem que o Fantástico fez com Geyse Arruda, a garota agredida na Uniban. Também dá pra ver o seu famoso "vestido vermelho". É de bom gosto? Não é! Adequado a uma escola? Não também! Mas daí a ofender a moral dos linchadores? Agora, se despertou o ânimo dos "machos" alfa, que resolveram atuar como chimpanzés estupradores, então todas as mulheres da Uniban correm risco.

A reportagem do Fantástico mostra cenas de uma outra aluna sendo agredida porque se negara a participar de um protesto de estudantes. A turba avança sobre o seu carro. Aconteceu em abril. Ela se afastou da universidade. Ninguém foi punido.

Leia este trecho da reportagem do Fantástico:
Esse alunos podem ser expulsos da faculdade?
"No momento, eu não estou enxergando esse nível ou essa proporção. O que a comissão de sindicância está apurando até agora é que o incidente foi extremamente localizado", conta o Vice-reitor da Uniban, Ellis Wayne Brown.
Sobre a agressão sofrida pela estudante de educação física, mostrada no início da reportagem, a universidade argumenta:
"Toda vez que se instala um campus. A primeira coisa que aparece é um monte de barzinho em volta. Há uma movimentação muito intensa e a maior parte não é ação dos alunos".  

Comento
Com a devida vênia, o sr. Ellis Wayne Brown ou não sabe português ou, sabendo, apenas não sabe o que diz. Se o incidente foi localizado, como ele afirma, fica ainda mais fácil expulsar. O diabo, senhor vice-reitor, é que não foi localizado, não. E sua escola tem problemas. E o senhor pode não ser o menor deles.

"Não está vendo motivos para expulsão"? O que é preciso fazer na Uniban para ser expulso? Agredir, como se nota no caso da ocorrência de abril, pode? Ameaçar de estupro também pode? Achincalha, humilhar, molestar, tudo isso pode?

Sr. Brown, o que é que não pode fazer na Uniban? E estudar? Pode?

O vice-reitor culpa os bares à sua volta. É mais um desses fatalistas trágicos que acreditam haver forças superiores às quais alguns homens não podem resistir: e o boteco seria uma delas. Ele certamente vive a ilusão de que, se os bares no entorno de sua universidade fossem proibidos, aquela selvageria não aconteceria. Isso significa que ele elegeu um oponente preferencial para os cursos que ministra lá: eles concorrem com o boteco. E, a julgar pelo seu juízo, com desvantagem: Boteco 1 X Uniban 0.

Lamento, mas o placar parece falso. Desconhecem-se cenas de selvageria nos bares que cercam a Uniban. Mas, no ambiente da universidade, há casos cabeludos. A postura do vice-reitor, creio, pode explicar por que aquelas cenas aconteceram e, infelizmente, podem voltar a acontecer.

Algo de muito ruim se passa na Uniban. E, intuo, não é só lá. O que será que seus, como chamarei?, consumidores entendem que seja exatamente uma universidade?

Blog do Reinaldo Azevedo A UNIVERSIDADE E O BOTECO

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A MOÇA DE VERMELHO E AS ESQUERDAS

Como investidor na civilização, continuo interessado em saber quais providências a Uniban vai tomar contra os bárbaros que protagonizaram uma das cenas mais estúpidas a que assisti nos últimos tempos: o linchamento moral de uma moça que estava com uma roupa considerada inadequada para freqüentar aquele ambiente. O pressuposto daquela gente só pode ser este: onde há linchadores e candidatos a estupradores, um vestido curto pode ser algo muito imoral! Olhem: custo a crer que aquilo tenha acontecido. E algumas — na verdade, muitas — mensagens que recebi dão conta de certa crise de valores do nosso tempo.

Alguns leitores, fazendo questão de deixar claro que costumam detestar o que escrevo, disseram-se surpresos com a minha opinião sobre o episódio. Segundo afirmaram, a expectativa era a de que alguém "católico, conservador ou de direita" (os adjetivos e locuções adjetivas variavam um pouco) apoiasse a barbárie. Não é mesmo fabuloso?

Ora, então são os ditos "conservadores" os justificadores de ações da massa, da chamada "coletividade", contra um indivíduo? Quando muitos de nós dizemos que as esquerdas detêm a hegemonia do processo cultural, há quem conteste. Eis aí um bom exemplo: a chamada "direita" — seja lá o que isso signifique na cabeça dessa gente — será sempre culpada de tudo. Tem-se como um dado da realidade que as esquerdas são mais tolerantes e, lá vai a palavrinha perigosa, "democráticas" do que a direita.

É essa a experiência histórica que temos? Só a ignorância — falta de conhecimento histórico mesmo — ou a má fé podem sustentar essa tese. Nunca houve máquina de matar como as de Mao Tse-Tung e Stálin. Não obstante, as duas bestas continuam a ser cultuadas em certos círculos ditos… progressistas. As várias manifestações do fascismo na Europa acabaram recebendo a designação de "direitistas". Mas terão sido realmente? O que há em comum entre, por exemplo, o liberalismo e a visão fascista de estado? Nada! O que de comum entre as concepções de sociedade dos comunistas e dos fascistas? Quase tudo. A diferença é que os comunistas preferem entregar ao "partido" o que os fascistas pretendem que seja regido pelo "estado". Nos dois casos, o que se tem é a morte do indivíduo e o triunfo da verdade coletiva.

Não! Não estou afirmando que eram "esquerdistas" aqueles que se manifestaram de modo tão brutal contra aquela moça. Mas estranho o silêncio da militância feminista; estranho o silêncio das ONGs voltadas para os chamados direitos da mulher; estranho o silêncio de Nilcéia Freire, titular da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres. Sim, eu sei, a "moça de vermelho" não é exatamente uma militante; não é alguém que porte bandeira; não é veículo de uma causa. Ela é só uma cidadã, um indivíduo, vítima de uma brutalidade. Então todos se calam. Se a garota, ao menos, fosse negra, seria defendida em razão de sua condição que diriam "racial". Como nem isso ela é, então sabem o que ela é? NADA!!!

Pois é, queridos… Nós, os "conservadores", os "católicos", os "direitistas", nos interessamos pelos "humano-ninguém"; pelo humano sem pedigree militante; pelo humano que não é porta-bandeira de uma causa; pelos "desclassificados" neste mundo dividido em coporações militantes. Não! Não deviam ser esquerdistas aqueles que vaiaram a garota, que puxaram o coro, formado por homens e mulheres, de "pu-ta; pu-ta"… Mas, vejam que coisa, estavam imbuídos daqueles valores que podem ser qualquer coisa, MENOS LIBERAIS.

São, isto sim, os valores da coletividade; que ficam bem em fascistas, que ficam bem esquerdistas — no fundo, eles se confundem e, na origem, são a mesma coisa; que ficam bem nos grupos e nos ambientes onde o outro é essencialmente destituído de direitos individuais, devendo antes indagar à coletividade o que pode e o que não pode — independentemente do que asseguram até mesmo as leis.

Onde estão as esquerdas para defender a Moça de Vermelho, a moça sem causa? E reitero: pouco me importa se sua roupa era adequada ou não. A minha civilização é a do habeas corpus — "tenha o seu corpo". A minha religião, igualmente, é a da inviolabilidade desse corpo. Mas nós estamos em baixa, sei disso; temos de atravessar o deserto. Então vamos atravessar.

Nada sei que desabone a conduta daquela moça. Mas vou para o extremo: ainda que houvesse, e daí? Assegurar o direito das santas é bolinho, é coisa simples. O difícil é mesmo assegurar o direito das putas, dos tortos, dos caídos, toda essa gente que as esquerdas transformam em bandeiras desde que elas aceitem ser massa de manobra de seus propósitos: respeitam a bicha se a bicha carregar bandeira; respeitam a prostituta se a prostituta carregar bandeira; respeitam o oprimido se o oprimido carregar bandeira; respeitam os direitos humanos se os direitos humanos forem uma bandeira. Vale dizer: não é por amor ao homem que se mobilizam, mas por amor a uma causa.

Sim, eu tenho um profundo, um elementar, um essencial desprezo intelectual por essa gente. Protesto contra o que aconteceu com Geysa não porque eu me identifique com ela ou a considere útil aos meus propósitos. Aliás, meu protesto é ainda mais veemente justamente porque Geysa é um indivíduo sem nome e sem bandeira.

Quanto àqueles que se espantaram que um católico etc… Ora, nós contemos a mão que apedreja. Não apedrejamos. Blog Reinaldo Azevedo

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Mas estranho o silêncio da militância feminista; estranho o silêncio das ONGs voltadas para os chamados direitos da mulher; estranho o silêncio de Nilcéia Freire, titular da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres. Sim, eu sei, a "moça de vermelho" não é exatamente uma militante; não é alguém que porte bandeira; não é veículo de uma causa. Ela é só uma cidadã, um indivíduo, vítima de uma brutalidade. Então todos se calam. Blog Reinaldo Azevedo

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Seria de estranhar se algumas se manifestassem e agissem em prol da mulher!

Uma sociedade que se cala a uma se cala a todas!

Ana Maria C. Bruni

Territorio Mulher

 

 

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