A alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Navi Pillay, alertou nesta sexta-feira o governo brasileiro para não cair na tentação de querer "limpar as ruas" para apresentar uma boa imagem durante a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016. Pillay indicou que as principais vítimas da violência urbana no Brasil são os negros e que uma das principais causas das suas mortes é o uso excessivo da força por agentes policiais, milícias, assim como bandidos e traficantes de droga. Matéria Do Agencia Lusa .... Foto AMB
"Talvez haja uma tentação por parte deste governo para limpar as ruas, uma pressa em tratar de questões de segurança pública, sem o devido cuidado com os Direitos Humanos, para fazer um grande show para a imprensa internacional", advertiu Pillay.
Durante a coletiva em que fez um balanço da sua visita de sete dias ao Brasil, a representante da ONU reconheceu os avanços do governo Lula na área dos Direitos Humanos, mas ressaltou que o país ainda tem enormes desafios.
Entre os maiores problemas, estão a discriminação de indígenas e afro-descendentes, os altos níveis de violência contra a mulher, as condições degradantes nas penitenciárias brasileiras e as execuções extrajudiciais, tortura e tratamento cruel por parte das forças de segurança pública do Brasil.
"A maneira de parar a violência não é recorrendo à violência. É necessário ganhar a confiança das comunidades onde a violência está a acontecer. Isto jamais acontecerá na frente de uma arma", afirmou.
Além disso, ela lembrou que milhões de afro-descendentes e indígenas estão "atolados na pobreza" e não têm acesso a serviços básicos e a oportunidades de emprego.
"A maior parte dos povos indígenas não está a beneficiar do impressionante processo econômico do país e está retida na pobreza pela discriminação e indiferença, expulsa das suas terras e sujeita às armadilhas do trabalho escravo", declarou.
Pillay, a primeira mulher negra a ser nomeada juíza na África do Sul por Nelson Mandela, observou, nos seus contatos feitos em Salvador, Rio de Janeiro e Brasília, que há poucos afro-brasileiros em altos cargos no país e nenhum indígena.
A representante das Nações Unidas abordou também, no seu encontro, quinta-feira, com o presidente Lula, um tema sensível para o Brasil: as violações dos Direitos Humanos durante a ditadura.
"O Brasil é o único país da América do Sul que não tomou medidas para enfrentar os abusos cometidos durante o período do regime militar. Há maneiras de fazer isto evitando reabrir feridas do passado e ajudar a curá-las. A tortura, no entanto, é uma exceção: é um crime contra a humanidade e não pode ficar impune", assinalou.
Pillay sugeriu ao presidente brasileiro que crie uma Comissão de Verdade e Reconciliação e, segundo a alta-comissária, o chefe de Estado brasileiro manifestou-se aberto à proposta.
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